O manejo da terapia antiplaquetária em pacientes com stents farmacológicos (DES) que necessitam de cirurgias não cardíacas é uma questão ainda não resolvida na cardiologia. O estudo ASSURE-DES oferece insights valiosos sobre essa prática, comparando a eficácia e segurança de diferentes abordagens.
Escopo do Trabalho
O estudo investiga o manejo perioperatório da terapia antiplaquetária em pacientes com DES submetidos a cirurgias não cardíacas. A pesquisa foca em entender se a continuação da aspirina em monoterapia ou a suspensão de toda a terapia antiplaquetária antes da cirurgia é mais benéfica.
Objetivo do Trabalho
O objetivo principal do estudo foi comparar a eficácia e segurança de continuar a aspirina em monoterapia versus suspender toda a terapia antiplaquetária 5 dias antes da cirurgia não cardíaca em pacientes com DES implantados há mais de um ano.
Critérios de Inclusão
Os participantes incluíam adultos com pelo menos um DES implantado há mais de um ano, que estavam programados para cirurgia eletiva não cardíaca.
Critérios de Exclusão
Foram excluídos pacientes com síndrome coronariana aguda ou infarto do miocárdio no último mês, disfunção ventricular esquerda severa, doença valvular significativa, intolerância à aspirina, necessidade de anticoagulação, cirurgias emergenciais ou cardíacas, e alto risco de sangramento.
Tipo de Estudo
O ASSURE-DES foi um estudo multicêntrico, aberto, randomizado e controlado, realizado em 30 centros de três países.
Resumo da População Estudada
A população estudada consistiu de 926 pacientes, com 462 no grupo de monoterapia com aspirina e 464 no grupo sem terapia antiplaquetária. A idade média dos participantes era de 68,5 anos, com 23,9% sendo mulheres. Cerca de 44,7% dos pacientes tinham diabetes, e a maioria apresentava hipertensão e hiperlipidemia.
Sumário dos Resultados
Os resultados mostraram que não houve diferença significativa no desfecho composto primário (morte, infarto do miocárdio, trombose de stent ou AVC) entre os grupos. A incidência de sangramento maior foi similar entre os grupos, mas o sangramento menor foi mais frequente no grupo que continuou com aspirina.
Limitações do Estudo
O estudo enfrentou limitações, como a baixa taxa de eventos, que pode limitar a detecção de diferenças significativas. Além disso, não incluiu cirurgias de alto risco e não avaliou sistematicamente biomarcadores cardíacos em todos os pacientes.
Conclusão
A continuação da aspirina em monoterapia não demonstrou redução significativa nos eventos isquêmicos comparado à suspensão total da terapia antiplaquetária antes de cirurgias não cardíacas, embora tenha aumentado modestamente o risco de sangramentos menores.
Aplicação na Prática Clínica
Para pacientes com DES há mais de um ano, a decisão de continuar ou suspender a aspirina antes de cirurgias não cardíacas deve ser individualizada, considerando os riscos e benefícios. Este estudo sugere que a suspensão pode ser uma opção segura em muitos casos, especialmente em cirurgias de baixo a médio risco.
Referências:
Kang, D, Lee, S, Lee, S. et al. Aspirin Monotherapy vs No Antiplatelet Therapy in Stable Patients With Coronary Stents Undergoing Low-to-Intermediate Risk Noncardiac Surgery. JACC. 2024 Dec, 84 (24) 2380–2389.https://doi.org/10.1016/j.jacc.2024.08.024
Comentário escrito por:
Bruno Ferraz de Oliveira Gomes
Formado em Medicina pela UFRJ em 2007
Título de Especialista em Cardiologia, Medicina Intensiva e Ecocardiografia
Mestre em Engenharia Biomédica - COPPE UFRJ
Doutor em Cardiologia - UFRJ
Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia - FESC
Fundador e Editor-Chefe - Questões em Cardiologia
Médico do Serviço de Cardiologia - HUCFF-UFRJ
Vice-presidente do Departamento de Doença Coronariana - SOCERJ
Vice-presidente do Grupo de Estudos de Coronariopatias e Terapia Intensiva - SBC
Revisor de periódicos - ABC Cardiol, IJCS, Global Heart e ESC Heart Failure
Um dos autores da diretriz de Síndrome Coronariana sem Supra de ST da SBC 2021
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