O estudo FINEARTS-HF, apresentado no Congresso Europeu de Cardiologia, investigou o uso de finerenona em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (HFpEF) ou levemente reduzida. Este estudo foi um ensaio clínico internacional, duplo-cego, que incluiu 6001 pacientes com insuficiência cardíaca e fração de ejeção do ventrículo esquerdo (LVEF) ≥40%.[1]
Os pacientes foram randomizados para receber finerenona (dose máxima de 20 mg ou 40 mg uma vez ao dia) ou placebo, além da terapia usual. O desfecho primário foi um composto de eventos de piora da insuficiência cardíaca (hospitalizações não planejadas ou visitas urgentes) e morte por causas cardiovasculares.
Os resultados mostraram que, ao longo de um seguimento mediano de 32 meses, ocorreram 1083 eventos primários no grupo finerenona e 1283 no grupo placebo (HR 0,84; IC 95%, 0,74 a 0,95; P = 0,007), demonstrando redução de 16% do evento primário. Analisando os desfechos separadamente, a finerenona reduziu significativamente o número total de eventos de piora da insuficiência cardíaca (842 vs. 1024; HR 0,82; IC 95%, 0,71 a 0,94; P = 0,006), enquanto a mortalidade cardiovascular foi semelhante entre os grupos (8,1% vs. 8,7%; HR 0,93; IC 95%, 0,78 a 1,11).[1]
Vale ressaltar que o número de pacientes em uso dos iSGLT2 neste amostra foi baixo!
E os efeitos colaterais?
Os principais efeitos colaterais observados no estudo FINEARTS-HF sobre o uso de finerenona em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada ou levemente reduzida foram hipercalemia e hipocalemia. A finerenona foi associada a um aumento significativo no risco de hipercalemia em comparação com o placebo, enquanto o risco de hipocalemia foi reduzido. [1]
Esses achados são consistentes com outros estudos que avaliaram a segurança da finerenona, como o FIDELIO-DKD, que também relatou um aumento no risco de hipercalemia em pacientes tratados com finerenona.[2] Portanto, a monitorização regular dos níveis de potássio é recomendada para mitigar esse risco.
Efeitos para a prática clínica:
Surge mais uma opção medicamentosa para tratamento de pacientes com FE≥40%. Mas devemos ter ciência que os benefícios foram modestos e reduziram, primariamente, o número de internações com NNT em torno de 30. Esses resultados são semelhantes aos resultados apresentados pelos iSGLT2 nesta mesma população. Precisamos de estudos que avaliem o uso combinado desses medicamentos e conhecer qual é o perfil de paciente que irá se beneficiar desta droga.
Referências:
Finerenone in Heart Failure With Mildly Reduced or Preserved Ejection Fraction.
Solomon SD, McMurray JJV, Vaduganathan M, et al.
The New England Journal of Medicine. 2024;. doi:10.1056/NEJMoa2407107.
Hyperkalemia Risk With Finerenone: Results From the FIDELIO-DKD Trial.
Agarwal R, Joseph A, Anker SD, et al. Journal of the American Society of Nephrology : JASN. 2022;33(1):225-237. doi:10.1681/ASN.2021070942.
Escrito por:
Bruno Ferraz de Oliveira Gomes
Formado em Medicina pela UFRJ em 2007
Título de Especialista em Cardiologia, Medicina Intensiva e Ecocardiografia
Mestre em Engenharia Biomédica - COPPE UFRJ
Doutor em Cardiologia - UFRJ
Fellow da Sociedade Europeia de Cardiologia - FESC
Fundador e Editor-Chefe - Questões em Cardiologia
Médico do Serviço de Cardiologia - HUCFF-UFRJ
Vice-presidente do Departamento de Doença Coronariana - SOCERJ
Vice-presidente do Grupo de Estudos de Coronariopatias e Terapia Intensiva - SBC
Revisor de periódicos - ABC Cardiol, IJCS, Global Heart e ESC Heart Failure
Um dos autores da diretriz de Síndrome Coronariana sem Supra de ST da SBC 2021
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