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Irving Bispo

Como fazer diagnóstico de Febre Reumática: critérios revisados de Jones

Atualizado: 1 de abr.

A febre reumática (FR) e a cardiopatia reumática crônica (CRC) são complicações não supurativas da faringoamigdalite causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A (EBGA) e decorrem de resposta imune tardia a esta infecção em populações predispostas.


A FR afeta especialmente crianças e adultos jovens de baixo nível sócio econômico. A mais temível manifestação é a cardite, que responde pelas sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes para atividade laboral na população economicamente ativa.


Em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, a faringoamigdalite e o impetigo são as infecções mais frequentemente causadas pelo EBGA. No entanto, somente a faringoamigdalite está associada ao surgimento da FR.


A FR possui uma distribuição universal, mas com marcada diferença nas taxas de incidência e prevalência entre os diversos países, constituindo a principal causa de cardiopatia adquirida em crianças e adultos jovens nos países em desenvolvimento.


Atualmente, o diagnóstico de febre reumática ainda se baseia em um grupo de critérios: os critérios de Jones. Esses critérios foram revistos a intervalos irregulares por associações americanas como American Heart Association (AHA). De acordo com a última revisão, publicada em 2015, foram feitas duas principais alterações em relação ao grupo de critérios  de 1992.


A primeira consistiu em uma estratificação dos indivíduos suscetíveis em dois grupos, baseada em considerações epidemiológicas de risco para se adquirir a patologia. Considera-se grupo de baixo risco aquele em que a incidência de FR é menor do que 2/100.000 escolares (entre 5-14 anos) por ano ou que tenha uma prevalência de cardite reumática crônica em qualquer grupo etário menor ou igual a 1/1.000 por ano. Crianças pertencentes a comunidades com níveis superiores a esses teriam risco moderado a alto para adquirir a doença

 

 

A segunda importante alteração foi incluir a possibilidade de se usarem os critérios de Jones para fazer diagnóstico de recidivas de febre reumática (até então a sua finalidade era somente diagnosticar primeiro episódio da doença).


Independentemente da classificação de risco, passou-se a considerar os achados ecodopplercardiográficos sugestivos de cardite – ainda que não acompanhados por sopro ou outros sinais clínicos (a “cardite subclínica”) como suficientes para contemplar um sinal maior dos critérios.


Na Cardite, a porção mais atingida é o endocárdio em mais de 90% dos casos. Na forma de insuficiência mitral, manifesta-se como sopro sistólico em foco mitral. Em aproximadamente metade das vezes, pode ser acompanhada de sopro diastólico em foco aórtico,decorrente de insuficiência aórtica. A concomitância de insuficiência mitral e aórtica em um paciente previamente sadio é altamente sugestiva de febre reumática. Ocasionalmente, miocardite e pericardite podem estar presentes. Na ausência de valvulite, essas manifestações são menos encontradas na febre reumática.

 

Baixo risco

Moderado ou alto risco

Critérios maiores:

  • Cardite (clínica ou subclínica)

  • Artrite (poliartrite apenas)

  • Coreia de Sydenham

  • Eritema marginatum

  • Nódulo subcutâneo

Critérios maiores:

  • Cardite (clínica ou subclínica)

  • Artrite (poliartrite, poliartralgia ou monoartrite)

  • Coreia de Sydenham

  • Eritema marginatum

  • Nódulo subcutâneo

Critérios menores:

  • Poliartralgia

  • Febre

  • Elevação de provas inflamatórias

  • Intervalo PR prolongado ao ECG

Critérios menores:

  • Monoartralgia

  • Febre

  • Elevação de provas inflamatórias

  • Intervalo PR prolongado ao ECG

Figura 1: Critérios revisados de Jones baseado na exposição a cepa reumatogênicas segundo última atualização

 

 

 Figura 2: Valvulite reumática com insuficiência aórtica (arquivo do autor)

 

Devemos analisar os critérios de acordo com os sintomas apresentados pelo  paciente, sempre tendo em vista que nosso país, o risco de exposição a cepa reumatogênica é alta e pode impactar uma população que será incorporada ao mercado de trabalho.




 

Referências

  1. Bispo IGA, Lloret RR, Abreu BNA, Guimarães HP, Jardim CAPJ, Jatene IB.Guia Prático de Cardiologia HCor. Editora Atheneu, Rio de Janeiro, 2017

  2. Pereira BAF et al. Febre reumática: atualizacão dos critérios de Jones à luz da revisão da American Heart Association – 2015. Rev Bras Reumatol . 2 0 1 7;57(4):364–368

  3. Kane A, Mirabel M, Touré K, Périer MC, Fazaa S, Tafflet M,et al. Echocardiographic screening of rheumatic heart disease: age matters. Int J Cardiol. 2013;168:888–91.15.

 

Sobre o autor


Dr. Irving Gabriel Araújo Bispo

Título de Especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileiro de Cardiologia.

Título de Especialista na área de Atuação de Ecocardiografia pelo Departamento de Imagem Cardiovascular/ Sociedade Brasileira de Cardiologia.

Pós Graduado em Docência em Ciências da Saúde pela Faculdade UNYLEYA.

Mestre em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Professor de Cardiologia pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS).

Co-editor da página Questões em Cardiologia @questoesemcardiologia

 

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