Podemos usar betabloqueadores na gestação?
- Bruno Ferraz
- 16 de dez. de 2018
- 2 min de leitura
Sobre o uso de betabloqueadores na gravidez, podemos afirmar, exceto:
A) A gravidez promove um aumento espontâneo da frequência cardíaca
B) Grávidas tem maior propensão à taquiarritmias
C) O betabloqueador aumenta o risco de malformações cardíacas no primeiro trimestre
D) Hipertensão arterial, isoladamente, aumenta o risco de malformações
A gravidez, por si só, aumenta o volume sanguíneo circulante, gerando um aumento natural da frequência cardíaca em torno de 10bpm. O estado hiperdinâmico, assim como alterações hormonais, aumentam o risco de taquiarritmias em gestantes, podendo ser necessário o uso de betabloqueadores. Os betabloqueadores são drogas muito utilizadas na cardiologia, especialmente em pacientes com insuficiência cardíaca, doença coronariana, taquiarritmias e hipertensão arterial.
No final de novembro, a Annals of Internal Medicine publicou o artigo "β-Blocker Use in Pregnancy and the Risk for Congenital Malformations: An International Cohort Study" (Uso do betabloqueador na gravidez e o risco de malformações congênitas: uma coorte internacional). Foram analisados dados e registros de 5 países nórdicos e do Medicaid americano em pacientes grávidas com o diagnóstico de hipertensão que foram expostas ao betabloqueador no primeiro trimestre. Mais de 2500 pacientes usaram betabloqueadores no primeiro trimestre. Mesmo após ajuste para potenciais confundidores, o betabloqueador não esteve associado à maior risco de malformações graves, malformações cardíacas ou do sistema nervoso central nem à lábio leporino. A análise foi restrita aos nascidos vivos.
Dessa forma, esse estudo reafirma a segurança do uso de betabloqueadores no primeiro trimestre quanto à malformações, sendo medicamento de primeira linha no tratamento de hipertensão em gestantes. Estudos prévios já demonstravam esta segurança quando ajustados para hipertensão (confundidor), já que a hipertensão, isoladamente, aumenta o risco de malformações (dessa forma, os estudos que não ajustavam para fatores confundidores acreditavam que o betabloqueador aumentava o risco de malformações quando, na verdade, era a hipertensão que aumentava). A droga mais indicada para o tratamento da hipertensão é o labetalol (não disponível no Brasil). Já o metoprolol é a droga de escolha especialmente na insuficiência cardíaca e taquiarritmias. Não se esqueça que os betabloqueadores podem estar associados à crescimento uterino restrito. Sempre consultar o obstetra antes de iniciar o betabloqueador!
A resposta da questão é letra C (O betabloqueador aumenta o risco de malformações cardíacas no primeiro trimestre).

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BRUNO FERRAZ DE OLIVEIRA GOMES
Médico rotina do Unidade Cardiointensiva do Hospital Barra D'Or
Ecocardiografista do Hospital Barra D'Or
Professor Substituto em Cardiologia - UFRJ
Diretor Científico do Departamento de Doença Coronária da SOCERJ
Intensivista no Hospital Federal Cardoso Fontes
Mestrando em Engenharia Biomédica na COPPE/UFRJ
Título de especialista em cardiologia, terapia intensiva e ecocardiografia
Referências:
1. Bateman, B. T., Heide-Jørgensen, U., Einarsdóttir, K., Engeland, A., Furu, K., Gissler, M., … Zoega, H. (2018). β-Blocker Use in Pregnancy and the Risk for Congenital Malformations. Annals of Internal Medicine. doi:10.7326/m18-0338
2. Tachyarrhythmias and Pregnancy. An article from the e-journal of the ESC Council for Cardiology Practice. Vol. 9, N° 31 - 20 May 2011