Paciente jovem, sem comorbidades, assintomática, resolveu fazer um ecocardiograma para check-up. Conseguiu o pedido do exame com o amigo médico. No dia seguinte, resolve procurar o seu cardiologista pois estava apavorada com uma frase que constava no seu laudo: "aneurisma de septo interatrial, sem sinais de forame oval patente ao color Doppler". Qual seria sua conduta?
A) Solicitaria um ecocardiograma transesofágico para avaliar a presença de defeito de septo interatrial
B) Acalmaria a paciente e não iniciaria nenhuma medicação
C) Prescreveria AAS para reduzir a ocorrência de AVC
D) Iniciaria anticoagulação com cumarínico devido ao alto risco de embolia paradoxal
E) Repetiria o exame anualmente para avaliar a progressão da doença
RESPOSTA:
Estudos de necrópsia e de ecocardiograma transesofágico em comunidades mostraram que a prevalência de forame oval patente é de 25 a 30%. O aneurisma de septo interatrial é definido como um movimento redundante do septo interatrial com uma excursão superior a 1cm. Não sabemos se o aneurisma de septo interatrial é associado à AVC criptogênico.
As opções terapêuticas existentes para prevenção de recorrência de AVC em doentes com defeitos de septo interatrial (DSA), forame oval patente (FOP) e aneurisma de septo interatrial (ASI) são antiplaquetários ou anticoagulantes e abordagem cirúrgica com oclusão do defeito. A prevalência de FOP é maior em doentes com AVC criptogênico. Contudo, não há certeza na relação causal do defeito de septo interatrial com o AVC. Com isso, não há um tratamento considerado padrão-ouro para esta situação clínica.
O melhor tratamento para um paciente com AVC criptogênico e com DSA não está estabelecido. A melhor evidência clínica disponível não provou que o fechamento do forame oval patente (FOP), tanto percutâneo como cirúrgico, é melhor que o tratamento clínico com antiplaquetários ou anticoagulantes. Parte desse resultado se deu pois o próprio dispositivo de fechamento do FOP carrega um risco associado de AVC. Além disso, alguns eventos cerebrais recorrentes não são relacionados à embolização paradoxal.
As recomendações atuais são:
1) Em pacientes com primeiro evento de AVC criptogênico e FOP identificado, preferir terapia antiplaquetária (com ou sem AAS). Em pacientes com evidência de tromboembolismo devem ser tratados com anticoagulantes.
2) Em pacientes com recorrência do AVC ou AIT criptogênico apesar do correto uso de antiplaquetários, tratar com anticoagulação ou fechamento percutâneo do FOP.
3) Não está bem estabelecido o benefício do tratamento em pacientes assintomáticos e descoberta acidental do FOP. Não é recomendado o uso de medicamentos profiláticos nesses doentes.
Com isso, a resposta correta é o item B: Acalmaria a paciente e não iniciaria nenhuma medicação
Comentário por:
BRUNO FERRAZ DE OLIVEIRA GOMES
Médico rotina do Unidade Cardiointensiva do Hospital Barra D'Or
Ecocardiografista do Hospital Barra D'Or
Diretor Administrativo do Departamento de Doença Coronária da SOCERJ
Intensivista no Hospital Federal Cardoso Fontes
Mestrando em Engenharia Biomédica na COPPE/UFRJ
Título de especialista em cardiologia e terapia intensiva